Monday, August 12, 2013

   Terminei de reler o Caio(Morangos Mofados) no metrô, voltando pra casa. Ler o Caio sempre me deixa cinzento. Porque o Caio era triste, ele escrevia triste e espalhava aquela tristeza bonita pelo mundo. E eu ando ainda tateando no aprendizado da alegria, iniciante estabanado que sou. O perigo do chumbo sempre me espreitando pelos cantos dos móveis, atrás das portas, pelas esquinas, descendo a escada rolante pra pegar a Central Line em Holborn. Eu desvio, mudo de calçadas, aperto o passo. Nem sempre dá certo.
    A tristeza é sutil e súbita, bela,  sexy no seu andar felino em almofadas de veludo Azul marinho. Ela veste luvas de cetim de cores pálidas amanteigadas.
    Eu havia lido(e relido muitas vezes) os Morangos Mofados lá na década de 80 daquele século velho, os meus "anos horripilantes". E devia andar tão triste quanto o Caio, inocente e tolo, sem imaginar que haviam coisas ainda piores por vir. E elas vieram. É que eu fui o ultimo mártir do otimismo.
    E coisas piores vieram pro Caio também. Como vieram pra muita gente naqueles tempos feios, de ressacas e bad trips.
    O Caio era triste, tinha os dedos finos e usava anéis de prata. E vestia um sorriso quase zen na última vez em que o vi, naquela livraria no Leblon em 1995 no lançamento do seu livro final, Ovelhas Negras.
   Eu falava sem parar, pra encher o silêncio, e dizia do quanto eu queria ter lido a "Dulce Veiga" e como era impossivel achar o livro no Rio naqueles tempos pré online shopping. Ele me deu um sorriso, apontou pra estante atrás do ombro e me disse: "Tá com sorte, olha um exemplar aqui..." E me esticou o livro depois  de escrever com uma letra linda: "Olha ela aqui... Enfim, Dulce!" E desenhou um sol lindo junto com a dedicatória do ovelhas Negras.
   Eu peguei o ônibus de volta pra casa feliz. O Caio não ficou nesse mundo muito mais tempo depois. Se foi com seu sorriso Zen, seus anéis de prata e sua tristeza bonita. Foi pra outras bandas, outras cidades.
   Agora eu aqui, tanto tempo depois, me lembro da tristeza dele, tão linda que quase me esqueço do pouco que aprendi das alegrias dessa vida.
   

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