Monday, May 06, 2013

   Sim, essa criatura que vos fala não bate muito bem, isso todos sabem, mas últimamente anda pior.
   Como se não bastassem aqueles dramas quotidianos, outros andam se acumulando. E os nervos se esticando até o limite.
   Brasil, Brasil, Brasil. Agora que decidi que quero voltar, as coisas vão ficando cada vez mais complicadas. Voltar como, quando, pra onde, fazer o quê, como sobreviver? Grana, casa, amigos, família, tudo ao mesmo tempo agora.
   Com tudo isso me atormentando, eu tive a genial e desesperada idéia de comprar uma passagem pro Rio no cartão quase estourado, sem saber como vou pagar depois, assim na irresponsabilidade dos loucos.
   Passagem comprada, eu me lembrei que meu passaporte brasileiro continua vencido e eu não tirei outro por causa do trauma do ano passado. O consulado geral do Brasil em Londres é um inferno além da imaginação de qualquer Kafka. Então eu pensei assim: Não vou me estressar, sempre posso ir com o meu muito útil passaporte italiano. Acontece que o dito estava desaparecido e o meu fim de semana foi desperdiçado tentando achá-lo sem sucesso. Finalmente, hoje pela manhã, descobri o troço num cantinho dentro de uma caixa de coisas inúteis no fundo de uma estante. Alívio. Mas não por muito tempo, a merda tá vencendo antes da minha volta. Agora estou sem nenhum documento de viagem.
   Vão ser dias de ódio e incertezas. O consulado italiano só tem data pra me atender no final de julho, o que é tarde demais. E com o consulado brasileiro não se pode contar.
   Meus dias de cachorro louco começam amanhã, quando vou começar uma peregrinação de consulado em consulado, sendo destratado diáriamente por burocratas ressentidos que vão fazer o impossível pra transformar a minha vida num inferno.
   Se tudo der errado e eu perder a minha passagem e a grana, eu não serei responsável pelas consequências, amém.

3 comments:

Jôka P. said...

Morei por quase uma década na França, e voltei ainda jovem, com menos de trinta anos. Mas tem uma hora em que não existe mais voltar, seria como ressuscitar, retornar do além túmulo. A vida "do outro lado" já andou, mudou muito, as pessoas se transformaram em outras, e nós também, já não somos mais os mesmos.
Voltar seria quase como se tornar um morto-vivo para os outros.
Não acredito em voltar. A vida da gente não tem volta.
E então? E depois?
Não há então. E nem depois.

Unknown said...

Pois vou renascer no ano que vem, seu Jôka.

Jôka P. said...

Sim! Boa sorte!