Tuesday, February 05, 2013

    Eu me exponho demais?
  Sim. E não.
 
   Em tempos como esse, em que a idéia de privacidade desapareceu aos poucos sem ninguém notar ou reagir, eu diria que não. Quando o meu supermercado, através do meu cartão de "fidelidade" sabe o que como no café da manhã, no almoço, nos fins de semana, se eu gosto de azeitonas pretas ou verdes, o meu drink favorito das sextas à noite, quando o meu cartão de crédito sabe melhor do que eu dos meus gostos musicais e literários, quando a rede de farmácias que eu uso sabe quando estou deprimido, sabe dos meus males intestinais, da minha acne, das minhas preferências sexuais e saberá(provavelmente) do meu câncer eventual antes de mim, eu começo a achar que privacidade é uma abstração, um conceito alienígena, uma fantasia romântica... Já chegou 1984, o admirável mundo novo, o grande irmão. Qualquer noção de privacidade é vã e inútil, sejamos francos.
   Sem falar, claro, da exposição voluntária que praticamos diáriamente, oferecendo nossas entranhas em sacrifício no altar das vaidades das mídias sociais.
   Além do mais, como muita gente, eu não tenho nada de grave pra esconder.
   O problema é que todo mundo quer expor suas qualidades: Inteligência, charme, humor... Ninguém quer expor os próprios defeitos, as mazelas,  os pontos fracos e os dramas reais que habitam a pessoa atrás do dedo rápido, certeiro e sexy que dispara frases de efeito através do touchscreen do iphone. O que é natural, embora esse senso de segurança seja falso. Nesse caso, eu diria que sim, eu diria que me exponho demais. E não exatamente da maneira que pode parecer mais óbvia.
   Eu me exponho mais quando exponho o outro, nesse caso. Porque as tentações são enormes. Aquele comentário um pouco sarcástico que te deixa se achando um pouco acima da mediocridade geral? Aquela tirada que você se achou no direito? Aquele toque que aquela pessoa tava precisando?
    São eles mesmos que vão te expor de verdade, que vão revelar para todos os seus amigos, e para os 1.200 amigos daquele amigo, todas as suas fragilidades, limitações e fraquezas. E foi você mesmo quem acendeu a lanterna pra iluminar melhor o show.

2 comments:

Unknown said...

sábio!

maray said...

vamos deixar a coisa assim: tem gente que vem de holofote e tem gente que vem de vela, mas todo mundo quer mesmo é sair da escuridão, não é?

bjs