Friday, September 23, 2011

Sonata de quase inverno pra Snow White:

   Porque eu te gosto muito, querida, por isso te olho de longe, observatório astronômico. Porque não desejo precipitar desastres e cataclismas. Porque você é linda, delicada porcelana, cheia de coisas ainda por chegar. E também porque a minha vida é cheia de assombros, precipícios, dores e contágios que você parece intuir.
   Eu vivo de erguer barreiras pra conter as pragas em mim, muros de vidro, que se quebram sempre em espalhafatosos espetáculos. E tenho cofres frigoríficos onde lacro meus frascos de pestilências, ebola, avian flu, febre tifóide. E um pânico fóbico de alguém achar por aí a cópia da chave que vai precipitar o apocalípse do meu coração pisoteado, sangrento hemorrágico, rio de dor desaguando no velho oceano das lágrimas azêdas.
   Porque eu te gosto muito, querida, eu te observo do alto da torre do meu castelo encantado, te vejo bela e livre no fundo do vale aos pés da montanha, delicada e comovente, longe de tudo o que é sórdido e doentio nesse mundo claustrofóbico e amedrontador em que habito.

* Foi bom demais ter te visto esses dias.

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