Saturday, November 30, 2013

    Esses estranhos, os estranhos. Eu sou fascinado pela estranheza daqueles que me são estranhos. Estranhos são olhos, corpos, pernas, paus. Estranhos são a beira, a margem, o precipício. Estranhos são distâncias, metros, medidas. Estranhos são o oposto, o outro lado, as costas, suores, delírios. São azuis, pretos, amarelos, são ásperos feito lixas e macios como o veludo. Estranhos são confortáveis, desconfortáveis, incompreensíveis. São portas que se abrem de esgueira, são o clique da chave na porta, meias no chão, línguas, pêlos, unhas. São janelas abertas pra se voar, grades pra se conter. Estranhos são aqueles com olhos de lince, caras equinas, dentes de morder. Estranhos são aqueles que mais sabem de mim. E eu gosto de ser o estranho dos estranhos, de ser estranho pros estranhos, eu gosto de estranhar. Gosto de quando me estranham. Estranhos são olhares intensos, o retorcer do calcanhar no chão, o filtro do cigarro tocando a pele do lábio inferior, o estalar do primeiro gole do whiskey na ponta da língua. Estranhos são pra sempre hello goodbye. Estranhos são espelhos de espelhos dentro de espelhos, caleidoscópios. Estranhos são amores eternos que cabem em quinze minutos.
 

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