Saturday, March 03, 2012

      A quinta-feira foi um dia lindo de sol. Sempre o otimista, eu prontamente desenterrei meus óculos escuros de uma das centenas de caixas da mudança. Claro que desde então o céu anda cinza, escuro, cor de chumbo. E chove. 

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   Ninguém mais usa relógio nesse mundo, somente eu, que ando me sentindo anacrônico como meu bisavô, que devia andar por aí com um daqueles relógios pendurado numa corrente e guardado no bolso da calça. Agora, nesse mundo pós-apocalypso em que eu vivo estrangeiro, todo mundo checa o tempo nos seus famigerados mobile phones(celular é um nome muito feio e cell phone me soa muito biológico). Mas eu ainda tenho relógios, vários, e pretendo continuar os usando, mesmo que seja considerado estranho, excêntrico, relíquia de séculos remotos.
   E, no tumulto dos últimos dias, eu achei, perdido fazia anos, um relógio velho, que me lembro ter comprado em 1999, na velha e muito barata H&M da oxford Street. Trata-se de coisa vagabunda, o que eu sempre gosto, mas a bateria, obviamente, teve que ser trocada e a pulseira eu bem que tentei achar quem emendasse. Não teve solução e eu tive que substituir por outra nem tão bonita como a original, mas até que não ficou mal. O único drama é que isso tudo acabou me custando o triplo do preço original da geringonça. Eu tenho outros relógios, até muito melhores e mais bonitos, mas agora encanei com esse, coisas de gente esquisita. É que o tempo passa e eu ando ficando irremediávelmente atrasado. Na vida.


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   A vida na casa nova anda desafiadora, pra ficarmos em linguagem civilizada. 
   Tudo, absolutamente tudo, do forno ao chuveiro,da música à TV, do aquecimento do piso ao telefone, é eletrônicamente controlado. Na sala de jantar, me apresentaram um painel complicadíssimo que parece coisa do outro mundo e controla a minha vida confusa.             
   Claro que anda sendo um desgosto, outro dia eu inundei o banheiro já que a "bomba" que suga a água do box do chuveiro havia sido desligada por um dos meus flatmates. Eu me desespero muito fácilmente com essas coisas. Parece que vou ter que cursar engenharia eletrônica se quiser tomar um banho em paz. Ou lavar um copo na pia da cozinha. 

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   Ainda sem internet em casa. E mais não digo pra não despertar meus nervos delicados.

3 comments:

maray said...

Eu gosto muito de relógio. Mas tem que ser daqueles de números, todos os números. Nada de digital nem daqueles que têm bolinhas no lugar dos números. E vagabundo, é claro. Meu penúltimo foi comprado num lugar tipo o saara do Rio. O camelô ainda perguntou: quer Bulgari, Dior ou Rolex? Não é ótimo? Qualquer um por "vinte real"...Dura o mesmo que a bateria. Quando ela acaba, pode jogar fora o "rolex" junto ;)

Fiquei curiosa com a tua casa "eletrônicamente controlada". E quando falta luz? Ou aí nunca falta luz?

Unknown said...

Quero nem imaginar falta de luz, Maray, nem imaginar... Eu provavelmente ficaria preso em casa como um animal numa armadilha. Ia ter que chamar os bombeiros pra me resgatar. Isso se o telefone funcionar. Ah, tem o celular(!) pra me socorrer. Cruzes!!!
Beijos

Trumbuctu said...

Acho um charme perguntar as horas a alguém e o gesto ser o de puxar do pulso e não do telemóvel. Se for um relógio de bolso ainda mais.

Beijos

PS- É melhor ter o telemóvel sempre carregado. Se acaba a luz, foi-se ;)