Saturday, May 01, 2010

No CD player, Lauryn Hill me ensina que everything is everything e eu me lembro de um domingo, o sol na cara, a boa compania, o calor de quase verão em Hampstead, scones com creme e blueberry, fruit cake, os esquilos correndo na grama e eu feliz bebendo elderflower.
O sol na cara e eu pensando em Deus: "let me be patient, let me be kind..." Tudo estava calmo como nunca e eu gostava em excesso de ser uma pessoa assim fria e calma como as águas de um lago num parque de uma cidade estrangeira onde as pessoas correm pra se banhar com felicidade e prazer aos primeiros sinais dos primeiros raios de sol no verão. Uma pessoa tranquila, eu começava a me sentir confortável plácido assim.
A toalha estendida na grama tinha desenhos africanos e era um objeto estranho e inútil como a cesta de picnic que eu vi numa vitrine em Kilburn Park e me fez lembrar do quanto eu desejei minha primeira bicicleta.
Na distante terra onde eu nasci, as bicicletas eram caras e os verões eram quentes, assim como eram quentes a grama, os morros, os cães e até mesmo as sombras sob os pés de carambola. O céu era azul e límpido e claro, mas guardava a véspera das tempestades, os raios cortantes e os trovões do fim de tudo. Não existiam esquilos nas gramas da cidade onde nasci. Não haviam cestas de picnic. Nada era inútil sob aqueles pés de carambola. Tudo era solene e profundo como a preparação de uma despedida. Era sempre o sol escaldante quem anunciava as grandes tempestades.
(London, may 2002)

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