Tuesday, October 13, 2009

Escrever cartas. Cartas longas, intermináveis, cheias de mínimos detalhes, papel, caneta, envelope, selo, cola, lambidas. Uma pena que não existam mais cartas. Eu costumava escrever cartas num passado remoto. Eram todas cartas de amor, das quais eu me arrependo e que espero nunca venham me assombrar. Eu também rasguei cartas, queimei, joguei no lixo. Eu já chorei sobre cartas, morri de rir, achei graça, me comovi. Nem sei mais se ainda existem correios. Minhas correspondências agora são todas burocráticas, bancárias, impessoais. Derruba-se menos árvores, o que talvez justifique. Mas fico com uma certa nostalgia de abrir envelopes, desdobrar folhas, apreciar caligrafia. E as cartas também traziam cheiros, perfumes. E marcas no papel, lágrimas, suor. Eu ando me sentindo anacrônico como um relógio. Ou como um álbum de fotografias.

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