Wednesday, August 17, 2011

Saco. A minha mente anda mesmo em frangalhos. Porque eu sou confuso por obra de uma natureza caótica.  No caminho pro hospital eu me sentei lá em cima no 26 vazio. E pensei que milagres são ônibus vazios nessa cidade de manhã pelas 9 e pouco. E me sentei confortavelmente, respirei fundo relaxado sentado sozinho no banco inteiro e pensei com meus botões que era bom estar ali, vendo a cidade do alto de um ônibus vazio e quieto. Eu depositei suavemente o livro que carregava no banco ao meu lado e a minha mochila sobre ele. E pensei: Situação ideal pra eu pegar minha mochila apressado ao sair e esquecer o livro no banco ao meu lado. E repeti mentalmente pra não esquecer. E claro que esqueci. E que andei me odiando com violência de criatura demente. Porque o livro estava ótimo, porque dentro do livro havia a carta do hospital com os detalhes da minha consulta, o departamento, o andar, o horário, o nome do médico. E porque não me lembrava de nada e o hospital é gigantesco cheio de corredores, praças, pátios. Estresse.

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Médico: Hospital universitário, estudante moço bonito. Se eu me importo? Tudo em nome da ciência e do ensino da medicina moderna. E ficamos combinados que rola uma tomografia antes de se decidir por marcar a faca. Enrolo, aporrinhação, chatice. E faça me o favor de corrigir meu sobrenome no sistema que eu me importo sim thank you.

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Eu quero meu livro de volta. E resolvi acreditar que é possivel. Lá fui eu pro site do Transport For London preencher um formulário respondendo 437 perguntas detalhadas sobre o objeto perdido e as aborrecidas circunstâncias da perda. Pra ser informado que o processo de recuperação de objetos perdidos leva 21 dias e que eu podia ligar pra garagem do ônibus tentar ser mais rápido. Em 21 dias eu esperava já estar lendo outro livro. Eu fico louco com livro pela metade, não durmo. Trim trim trim, garagem? Meu livro no 26 por favor... Como não? Então me passa o número por gentileza. Garagem? Meu livro no 26 hoje cedo entre Liverpool Street e Saint Paul's. Como assim ainda é cedo? E quando os motoristas do turno da manhã voltam? Melhor amanhã cedo? E como é que eu durmo com o livro pela metade? Não, eu não vou comprar outro livro obrigadinho vai se foder. Zen Budismo pra iniciantes, falei?

Update: Consegui agora cedo falar de novo com a garagem. E ninguem achou meu livro. Me resta apenas a saida mais cara. Eu me rendo e vou comprar outro. Saco.

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E uma tarde civilizada de cházinhos e croissants e biscoitos e geléias com meu amigo C em seu jardim. Falar da vida, falar bobagens, contar confidências, sonhar jardins futuros. E gatos ariscos interessantes da espécie dos felinos peludos. Animais macios, sedosos, adoráveis. E chícaras de louça. E chaleira de prata. A bandeja era quase um filme de época. Merci.

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Eu acordo muito cedo amanhã, o aborrecimento.

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